E ao segundo dia o tema mais discutido na campanha continuou a ser Espanha por causa do TGV. Sócrates bem tentou há meses que o assunto não renascesse na pior altura, quando se pudesse fragilizar. Mas Ferreira Leite arranjou maneira de o trazer de volta, sobretudo porque pretende que os portugueses olhem para Sócrates, como ela própria diz, como um “novo-rico”. Quem é que gosta de “novos-ricos”? Ninguém e menos ainda em tempos de crise. Mas também ninguém gosta de “provincianos” e não admira que Sócrates respondesse acusando Ferreira Leite de “provincianismo”, do “orgulhosamente só” que cultiva a desconfiança em relação ao progresso.
Quem também veio em socorro desta tese foi João Soares que, num comício em Faro, lembrou que Ferreira Leite foi trabalhar para o Santander logo após sair do governo e que por isso não pode dar “lições de patriotismo”. Não ocorreu a João Soares que se Ferreira Leite trabalhou mesmo num banco espanhol, isso significa que está longe de ter problemas com Espanha, tal como não sucede aos muitos portugueses que trabalham para empresas espanholas. Que conversa absurda. É nisto que dá meter as relações com Espanha no meio do TGV: acabam todos por exibir à força o seu “patriotismo”. E quem é aqui o “provinciano”? Fernando Pessoa escreveu uma vez um opúsculo intitulado: “O caso mental português”. Segundo ele, essa mentalidade era precisamente o provincianismo que age por imitação dos outros, do que julga mais moderno ou mais avançado, incapaz de um pensamento próprio. Pensem: no TGV onde está o provincianismo?