Golpe de Estado

Mais um projecto de revisão constitucional que aspira ao desmantelamento do Estado Social.

Revisão

Aquilo que é indispensável ler sobre as inúteis propostas do PSD para o sistema de governo são os vários posts do Pedro Magalhães no Margens de Erro. E chamo particularmente a atenção para este que é para mim o mais original e surpreendente de todos. Mas não tenho a certeza que, se analisarmos o discurso dos antigos titulares do cargo de Presidente da República, não cheguemos à conclusão de que eles estiveram longe de rejeitar a responsabilidade do governo perante o Presidente. "Do que a Constituição fala é de uma responsabilidade do governo perante o Presidente", disse uma vez Mário Soares. Outra questão, mais interessante e difícil, é saber como é que todos eles configuraram essa relação de responsabilidade.

De qualquer maneira, as objecções que o Pedro Magalhães lucidamente indica fazem pensar que o PSD está a escolher um cavalo de batalha que não leva a lado nenhum; e que está a passar ao lado de muitos problemas bem mais gravosos do nosso sistema.

Delirium tremens


Este post é evidentemente uma mentira e uma desonestidade que, infelizmente, se tornaram típicas no seu autor. Assim de repente não sei onde é que escrevi que acho isto, ou parecido a isto, que João Galamba me atribui. Não foi certamente no artigo do Público que Galamba citou. Nunca me referi nem nunca escrevi sobre processo algum que envolvesse antigos administradores do BCP, pelo que nunca afirmei que estes factos "não passam de um mero boato". O que se passará com o dr. Galamba que começa a parecer-se demasiado com o chefe, ao ponto de colocar na boca dos outros opiniões que eles jamais transmitiram? Dizer, tal como muitos hoje o fazem, que a administração do BCP foi alvo de um golpe político por gente ligada ao socratismo, e que o banco foi usado politicamente (nunca esquecer as escutas do Face Oculta), e que essa dependência fragilizou a imagem pública do BCP, além dos episódios de abuso de poder subjacentes, não significa isentar quaisquer responsabilidades que outros eventualmente tenham. A cronologia do golpe já todos a conhecemos de trás para a frente (só precisamos de versões mais actualizadas). Mas ficámos todos a perceber melhor o que se passou no BCP, nestes anos de desvergonha socrática, com os magníficos esclarecimentos de Galamba. Armando Vara, o benemérito, foi metido numa lista concorrente para a administração do banco, com o objectivo salvífico de arrumar a casa dos desmandos que por lá estavam a ser feitos. Talvez o estado delirante, aqui vagamente patético, seja deste jovem e promissor deputado do PS que nos últimos anos tem assumido um padrão constante: mostrar por todos os meios e contra todas as evidências que consegue ser o mais fiel dos discípulos socráticos. Comovente.

Um prémio

Miguel Poiares Maduro ganhou o prémio do Prémio Gulbenkian Ciência (notícias de hoje). Diz muito do país que somos que o Miguel seja tão conhecido e reconhecido no estrangeiro e, tirando alguns círculos especializados, muita gente ainda o ignore num país useiro em marginalizar e desaproveitar os seus melhores. Nem nesta questão da Vivo/PT, que eu tivesse visto e excluindo uma pequena entrevista que saiu no Diário de Notícias, se lembraram de lhe perguntar o que pensava, ele que é provavelmente o nosso maior especialista em direito europeu e advogado-geral entre 2003 e 2009 no Tribunal de Justiça. Não é por eu ser amigo dele (também é por isso), mas acho que vamos ouvir falar muito do Miguel Poiares Maduro nos próximos anos. Espero que sim. O prémio Gulbenkian foi muito bem entregue.

Soccer war




Desde que tenho memória

E até antes

Os alemães querem ser campeões do mundo

Herman Van Vosse, poeta holandês, 1988.

O Uruguai da existência

Sempre que se aproxima o final do campeonato aparece um coro de doutrinadores a explicar-nos que os mundiais estão cada vez pior. Não contesto - estamos mais velhos, com menos paciência, e os mundiais estão cada vez pior. Mas há rasgos, zonas francas, fugazes momentos de alegria que só os mundiais permitem. Para já, e para mim, houve dois, ambos com o Uruguai em campo: o final do prolongamento no jogo com o Gana e o tempo de desconto da meia-final com a Holanda.

Alguns minutos de prazer contra muitas horas de chatice. Primeiro, aquele golo certo evitado com a mão que dá lugar a um penalty terrorista. Muito provavelmente, o penalty de toda a história que mais beneficiou o infractor. No universo da lógica, o Gana marcou o 2-1. No campo de jogo a bola não entrou. Estava mesmo escrito nas estrelas. E o desempate através dos terríveis “pontapés da marca de grande penalidade” que se seguiram não foi senão um mero formalismo de expediente para confirmar o destino.

Ontem, já no tempo de descontos, já depois de o Uruguai ter ameaçado desistir ao tirar Forlán, algo parecido esteve prestes a passar-se. Num lance rápido o jogador uruguaio marcou o 2-3 (foi Maxi Pereira mas podia ter sido qualquer outro; Forlán à parte, a equipa é feita de gente anónima, jogadores medianos que apenas ganham espessura épica com a sua circunstância). Faltavam 90 segundos para o fim dos descontos, mas o árbitro, que seguramente gosta de mundiais, resolveu dar mais algum tempo para além do tempo. E nesse tempo suspenso, o Uruguai foi ainda capaz de pôr quatro ou cinco bolas na área. De cada vez que tal acontecia, por mais inconsequente que se adivinhasse ser, todos agradecemos a existência dos mundiais. Dos tais que - é certo - estão cada vez pior.