Vejo que ofendi uma das beatas desta sacristia, que me insulta porque (irónico !) expressei uma opinião intolerante. As beatas desta sacristia estão sempre à espreita e não perdoam. E é notório que sentem o prazer das beatas de antigamente — as do catolicismo — sempre que encontram nova blasfémia. Admito até que, à maneira delas, se persignem com afinco.
Agradeço a simpatia e a honestidade de misturar o link para o meu post com uma citação cheia de elevação e inteligência. Mas fico sem saber o que é que pensa sobre a parte do regime da educação sexual que omite. Não sei se a omissão é acidental ou intencional. Curiosamente, o que não diz é precisamente o que motiva o meu desacordo.
Se a lei assumisse como objectivos apenas a profilaxia (prevenção de doenças venéreas e da gravidez não desejada) e a divulgação científica do funcionamento dos mecanismos biológicos reprodutivos, nada teria opor. Estamos de acordo quanto a isso, embora tenha as minhas dúvidas sobre a eficácia do método. Além disso, porque já vi qual é a prateleira onde me arruma, clarifico que as minhas objecções não se fundam em catolicismos ou preceitos religiosos de outra ordem.
Aquilo que me parece inaceitável é a vasta ambição evangelizadora deste nosso Estado, que continua a invadir domínios para os quais não tem preparação nem legitimidade. É que, além da nossa plataforma de consenso, a lei assume também os seguintes propósitos (cito só os mais absurdos e graves):
Agradeço a simpatia e a honestidade de misturar o link para o meu post com uma citação cheia de elevação e inteligência. Mas fico sem saber o que é que pensa sobre a parte do regime da educação sexual que omite. Não sei se a omissão é acidental ou intencional. Curiosamente, o que não diz é precisamente o que motiva o meu desacordo.
Se a lei assumisse como objectivos apenas a profilaxia (prevenção de doenças venéreas e da gravidez não desejada) e a divulgação científica do funcionamento dos mecanismos biológicos reprodutivos, nada teria opor. Estamos de acordo quanto a isso, embora tenha as minhas dúvidas sobre a eficácia do método. Além disso, porque já vi qual é a prateleira onde me arruma, clarifico que as minhas objecções não se fundam em catolicismos ou preceitos religiosos de outra ordem.
Aquilo que me parece inaceitável é a vasta ambição evangelizadora deste nosso Estado, que continua a invadir domínios para os quais não tem preparação nem legitimidade. É que, além da nossa plataforma de consenso, a lei assume também os seguintes propósitos (cito só os mais absurdos e graves):
- «A valorização da sexualidade e afectividade entre as pessoas no desenvolvimento individual, respeitando o pluralismo das concepções existentes na sociedade portuguesa;»
- «O desenvolvimento de competências nos jovens que permitam escolhas informadas e seguras no campo da sexualidade;»
- «A melhoria dos relacionamentos afectivo-sexuais dos jovens;»
Sugiro a leitura da lista completa (artigo 2.º). É tão tosco, tão confuso, tão tudo-e-mais-alguma-coisa, com alíneas que se atropelam, que recaem sobre a mesma matéria utilizando diferentes expressões, que classificar o diploma como “nebulosa trapalhada” é até tímido e educado.
Mas não é só uma trapalhada. É uma confusão que exprime um objectivo claro de fazer engenharia social com a vida privada dos outros, ainda para mais num domínio tão sensível como o sexo (para além do que já mencionei lá em cima) e os afectos . Um domínio onde, aliás (na minha opinião muito pessoal) nem os pais se devem meter explicitamente. Melhor, onde nem os pais se sabem meter. Andam não sei quantos psicólogos, antropólogos e investigadores de outras áreas às voltas com o estudo dos relacionamentos afectivo-sexuais sem desatar o novelo (que não me parece desatável) e aparecem agora uns senhores deputados de braço dado com a burocracia de ministério a querer "melhorar competências" e a legislar com o pé esquerdo. Não reconheço essa capacidade a ninguém e certamente não a reconheço ao Estado.
Há outras opiniões, bem sei. Quem as tiver deve poder submeter os filhos a um personal trainer de competências afectivo-sexuais. É um direito que têm. Pela minha parte, não quero as minhas filhas doutrinadas em afectos pelo catecismo de nenhuma força política, conservadora ou progressista. E não quero por razões não-religiosas. É apenas a minha concepção de liberdade individual e cepticismo em relação aos resultados das ciências que querem impingir às crianças.
Repito, não é o meu caso, mas acho essencial que se respeite a liberdade de quem (islâmico, hindu, católico, etc) tenha objecções de natureza religiosa à sujeição dos seus filhos a estas matérias. Por isso comparei a lei da educação sexual à proibição dos catecismos nas salas de aula.
Para um não católico (ateu, agnóstico ou com outro credo), um crucifixo na sala de aula de um liceu português devia ser só um bocado de metal, madeira ou barro. O símbolo de um Deus falso ou inexistente e um elemento (não metafísico) da nossa cultura. Aparentemente ofende muita gente e querem removê-los. Como disse, acho excessivo, mas aceito. Só peço é que reconheçam também a liberdade (não só religiosa) dos outros. Chamam-lhe viver numa democracia liberal.
Há outras opiniões, bem sei. Quem as tiver deve poder submeter os filhos a um personal trainer de competências afectivo-sexuais. É um direito que têm. Pela minha parte, não quero as minhas filhas doutrinadas em afectos pelo catecismo de nenhuma força política, conservadora ou progressista. E não quero por razões não-religiosas. É apenas a minha concepção de liberdade individual e cepticismo em relação aos resultados das ciências que querem impingir às crianças.
Repito, não é o meu caso, mas acho essencial que se respeite a liberdade de quem (islâmico, hindu, católico, etc) tenha objecções de natureza religiosa à sujeição dos seus filhos a estas matérias. Por isso comparei a lei da educação sexual à proibição dos catecismos nas salas de aula.
Para um não católico (ateu, agnóstico ou com outro credo), um crucifixo na sala de aula de um liceu português devia ser só um bocado de metal, madeira ou barro. O símbolo de um Deus falso ou inexistente e um elemento (não metafísico) da nossa cultura. Aparentemente ofende muita gente e querem removê-los. Como disse, acho excessivo, mas aceito. Só peço é que reconheçam também a liberdade (não só religiosa) dos outros. Chamam-lhe viver numa democracia liberal.