: E como hás-de encontrar uma coisa de que não sabes absolutamente nada? Na tua ignorância, que princípio tomarás para te guiar nesta investigação? E se, por acaso, encontrasses a virtude, como a reconhecerias, se nunca a conheceste?
: Compreendo o que queres dizer. Que magnífico argumento para uma discussão ! Não é possível o homem procurar o que já sabe, nem o que não sabe, porque não necessita de procurar aquilo que sabe e, quanto ao que não sabe, não podia procurá-lo, visto não saber sequer o que havia de procurar.
: Não te parece bom esse raciocínio ?
: Decerto que não.
: Podes dizer-me então: a virtude é coisa que se ensina? Ou não é coisa que se ensina mas que se adquire pelo exercício? Ou nem coisa que se adquire pelo exercício nem coisa que se aprende, mas algo que advém aos homens por natureza ou por alguma outra maneira ?
: Também estou tão longe de saber se isso da virtude se ensina ou não, que nem sequer sei o que é que a virtude possa ser com ela me cruzar. Na realidade, também me encontro nesse estado. E, quem não sabe o que uma coisa é, como poderia saber que tipo de coisa procurar? Ou parece-te possível, alguém que não conhece absolutamente quem é, saber se é belo, se é rico e ainda se é nobre, ou mesmo o contrário dessas coisas? Parece-te isso possível ?
: Não, a mim não. Mas tu, já vejo bem, verdadeiramente não sabes o que é a virtude, e é isso que, a teu respeito, devemos levar como notícia para casa ?
: Pareces a velha.
: Pareces a velha.