A abrantização passista

É de uma nojeira inédita até em territórios de anonimato profissional.

Analogias

«For he [César] well knew that opposite parties or factions in a commonwealth, like passengers in a boat, serve to trim and balance the unready motions of power there; whereas if they combine and come all over to one side, they cause a shock which will be sure to overset the vessel and carry down everything. And therefore Cato wisely told those who charged all the calamities of Rome upon the disagreement betwixt Pompey and Caesar, that they were in error in charging all the crime upon the last cause; for it was not their discord and enmity, but their unanimity and friendship, that gave the first and greatest blow to the commonwealth.»

Plutarco, Vidas

Filantropo

Não tem vergonha, como se vê aqui. Mas tem o instinto de um filantropo. 

Juventude em marcha sem direito a brinde












Ontem à noite, o concerto dos Sonic Youth (uma cerimónia religiosa; no mínimo, um ritual) juntou na mesma sala uma pequena multidão de adultos em idade de relativa pujança sexual. No entanto, nem a sos (?) racismo nem nenhuma outra organização profilática ou filantrópica se dignaram aparecer nas imediações do Coliseu para oferecer preservativos aos fiéis. Depois de um concerto daqueles, teria feito algum sentido.

Better to be king for a night than a schmuck for a lifetime



O que fascina em Rupert Pupkin é a capacidade de estimular em simultâneo sentimentos (aparentemente) contraditórios como o desdém e a caridade.

"já estou cansada deste genero de blogar" II

Quem estiver cansado “deste género de blogar” pode sempre, mantendo-se no mesmo blog (que magnifica colecção), mudar a agulha para um outro “género de blogar” deveras curioso: o post aos berros. A Mónica Andrezo Pinheiro consegue o feito de, num singelo post, recriar o ambiente da lota de Matosinhos em dia de arruada de Narciso Miranda. Com tanta exclamação e indignação, tanto bold e caixa alta, ler blogs está tornar-se num exercício de risco.

"já estou cansada deste género de blogar"

Esta sequência de umdois, três, quatro textos - pela absoluta aleatoriedade da pontuação, pelo humor involuntariamente dadaísta, enfim, pela biqueirada gramatical nos rins do leitor - leva-me a pensar se o Azevedo Afonso Neves não será um ghost writer da Marta Rebelo. Ou talvez vice-versa.

Um eu apto para ser amado














Qualquer um de nós, suponho, afirmaria que o amor-próprio é a primeira condição da sobrevivência. E como a sobrevivência é o mais conservador dos deveres que temos no mundo, está então encontrada a primeira obrigação que também temos para connosco: o amor-próprio. O amor-próprio e a sobrevivência andam na mesma estrada.

Agora sentem-se e leiam isto:

"Survival (the animal, the physical, bodily survival) can do without self-love. As a matter of fact, it may do better wihout it than with it. The survival instinct and self-love may be parallel roads, but they may also run in opposite directions. Self-love may rebel against the continuation of life if we find that life hateful rather than lovable. Self-love can prod us to reject survival if our life is not up to love's standards and therefore not worth living.
What we love when we "love ourselves" is a self fit to be loved. What we love is the state, or the hope, of being loved - of being an object worthy of love, being recognized as such, and being given proof of that recognition.
In short: in order to have self-love, we need to be loved or to have hope of being loved. Refusal of love - a snub, a rejection, denial of status of a love-worthy object - breeds self-hatred. Self-love is built of the love offered to us by others. Others must love us first, so that we can begin to love ourselves."

Grande cabeça tem este Baumann. O que é fascinante aqui não é apenas essa separação radical entre o amor-próprio e a sobrevivência. O amor-próprio que me tenho pode implicar um eu que tragicamente não consigo alcançar, pelo que ficarei dispensado de querer sobreviver. A outra ideia é que eu devo tentar ser, ao longo da vida, um objecto digno de ser amado - an object worthy of love - a fim de manter sempre viva a esperança de ser amado, isto é, de ser reconhecido como amável e de ser amado por esse reconhecimento. Por outras palavras, podemos dizer que o amor-próprio não pressupõe tanto uma ética de sobrevivência como uma ética de aperfeiçoamento. Serei tanto ou mais amado, na medida em que seja digno de ser amado. Se eu desistir daquilo que pode fazer de mim um ser amável, susceptível de ser amado, perderei a esperança de que os outros me amem e, consequentemente, perderei também qualquer possibilidade de amor-próprio.

Teoria da imparcialidade

Este post é para mim uma novidade. Um comentador decide declarar os seus interesses depois e só depois de ter atingido aquilo que queria: a vitória do seu candidato (Pedro Passos Coelho). Há dois anos que o comentador anda metido em tudo o que é cenáculo na defesa de Passos Coelho e na crítica aos membros da antiga direcção de Ferreira Leite. Mas não se fica por aqui. Agora que os seus interesses estão na liderança, o autor informa-nos grotescamente que deixou de ter interesses, dando por “terminado" o seu apoio a Passos Coelho. Enganou-nos uma vez e ainda nos quer enganar uma segunda.

Razão tem José Barros na caixa de comentários do mesmo post. Por falar nisso, não há nenhum blog que ponha o José Barros a escrever com regularidade, agora o que o desabrantizante terminou.

José Barros disse

Fazia sentido escrever este post quando se iniciou, há cerca de um ano, uma campanha anti-Ferreira Leite em benefício do, na altura, pretendente ao trono. Aí sim, ficava bem que se dissesse que se estava em campanha para a eleição de Passos Coelho, nessa medida fazendo operar uma declaração de interesses que informaria os leitores dos objectivos do comentário político produzido pelo autor do post. Por outras palavras, os interesses declaram-se à partida, não à chegada a um objectivo político. Nessa medida, este post não passa de uma tentativa frustrada de passar um atestado de estupidez aos leitores. Resta que estes, como se vê pela caixa de comentários do Blasfémias, já há muito passaram a certidão de óbito ao autor do post enquanto analista político. O CAA poderá ser muitas coisas, analista político é que não é.