Com o desconto que a coisa merece, porque há filmes, discos e livros em que só se pega uns anos depois, aqui vai o meu balanço: gostei de Canino (Giorgos Lanthimos), filme anti-Daniel Sampaio, que mostra como o impulso sexual pode rebentar com qualquer experiência pedagógica, por mais metódica e vertical que seja; do Bad Lieutenant de Werner Herzog, um não-remake porque Herzog é incapaz de fazer algo que não seja absolutamente seu; do argumento e da mise en scène de Revanche (Götz Spielmann); da angústia geracional de Greenberg; do primeiro quarto de hora de Fish Tank (Andrea Arnold), um dos arranques de filme mais vibrantes dos últimos anos; e do que podia ter sido a sequência do sonho de Inception tivesse sido filmada por alguém com um mínimo de inquietação. Na televisão, Mad Men (que nos melhores momentos lembra Douglas Sirk), Breaking Bad e Carlos (Olivier Assayas) - uma espécie de Padrinho série B sobre terrorismo. Comprei menos discos pop pelo que só me ocorrem Have One On Me, de Joanna Newsom, as barbas rijas e guitarras dos Grinderman, a folque punk dos Titus Andronicus e a soul de Aloe Blacc. Também ouvi bastantes vezes Runaway, de Kanye West, pena que o resto do disco seja só assim-assim. Finalmente, nos livros, tive a sorte de gostar muito dos poucos que li editados em 2010, como X'ed Out, de Charles Burns, a verdadeira inception, Viva México (Alexandra Lucas Coelho), The Pregnant Widow (Martin Amis) e Petit Traité des Vertus Réactionnaires (Olivier Bardolle), um livrinho reconfortante que ficará pela mesa de cabeceira durante o ano que agora começa.