O director de informação de rádio da RTP, João Barreiros, escreveu no último Expresso mais coisa menos coisa que quem não sabe nada sobre televisão deveria abster-se de dizer ou escrever o que quer que seja sobre esse assunto. E até comparou essa homérica ambição de opinar sobre a RTP com o caso do treinador de bancada que nunca "calçou umas botas" mas tem um conselho avisado sobre as tácticas vencedoras. Não sei que espécie de grau ou qualificações especiais serão precisas para perorar sobre a RTP ou sobre o que deve ser a RTP. Mas, abstraindo disso, sucede que a RTP é uma televisão pública, paga e suportada anos a fio na maior das irresponsabilidades, e custa milhões por dia ao contribuinte. Quererá Barreiros que fiquemos calados sobre o destino que o Estado dá ao nosso dinheiro só porque nos falta um Phd em televisão pública?
Fado pró cíclico
As semanas, os meses, os anos de discussão vão-se acumulando e uma das ideias mais repetidas é que cortar na despesa e aumentar impostos num momento de contracção agrava a descida recessiva da economia. Não tenho aqui espaço para listar os argumentos que justificam a aplicação dessas políticas no imediato. Mas a discussão está estafada e todos temos o relatório-síntese na cabeça. Simplificarei dizendo apenas que as medidas que contribuem para o agravamento do ciclo recessivo (e por isso chamadas pró-cíclicas) são a foz do rio de dívida que foi alargando o caudal com uma sucessão de anos de défices. Défices que se acumularam em grande parte em períodos de crescimento, de alguma prosperidade, em que o Estado podia ter criado reservas para futuras tardes de Inverno com investimento público, o mesmo que dizer que a tão desamada pró-ciclicidade actual é inevitável graças a um passado que, desculpe-se a linguagem, podemos chamar “pró-ciclicidade de sinal contrário”. E chegamos ao ponto que me apoquenta: mais cedo ou mais tarde sairemos da insolvência. Mais pobres, menos autónomos, mas sairemos. Ora será que, quando pudermos decidir com alguma liberdade o que fazer com as receitas públicas de um determinado orçamento, os diversos agentes da nossa democracia (governantes, deputados, partidos, sindicatos, jornalistas, comentadores, indignados, opinião pública em geral e por aí fora) terão a racionalidade suficiente para aceitar que se criem reservas para usar em futuras tardes de inverno deixando pensões baixas por actualizar ? Pois...
No "i"
por
Duarte Schmidt Lino
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