Fado pró cíclico

As semanas, os meses, os anos de discussão vão-se acumulando e uma das ideias mais repetidas é que cortar na despesa e aumentar impostos num momento de contracção agrava a descida recessiva da economia. Não tenho aqui espaço para listar os argumentos que justificam a aplicação dessas políticas no imediato. Mas a discussão está estafada e todos temos o relatório-síntese na cabeça. Simplificarei dizendo apenas que as medidas que contribuem para o agravamento do ciclo recessivo (e por isso chamadas pró-cíclicas) são a foz do rio de dívida que foi alargando o caudal com uma sucessão de anos de défices. Défices que se acumularam em grande parte em períodos de crescimento, de alguma prosperidade, em que o Estado podia ter criado reservas para futuras tardes de Inverno com investimento público, o mesmo que dizer que a tão desamada pró-ciclicidade actual é inevitável graças a um passado que, desculpe-se a linguagem, podemos chamar “pró-ciclicidade de sinal contrário”. E chegamos ao ponto que me apoquenta: mais cedo ou mais tarde sairemos da insolvência. Mais pobres, menos autónomos, mas sairemos. Ora será que, quando pudermos decidir com alguma liberdade o que fazer com as receitas públicas de um determinado orçamento, os diversos agentes da nossa democracia (governantes, deputados, partidos, sindicatos, jornalistas, comentadores, indignados, opinião pública em geral e por aí fora) terão a racionalidade suficiente para aceitar que se criem reservas para usar em futuras tardes de inverno deixando pensões baixas por actualizar ? Pois...

No "i"