Melancolia – a minha palavra favorita de 2011, por várias razões e mais uma. No início é assim: a face de Kirstin Dunst em grande plano, os “Caçadores na Neve”, de Brueghel, um cavalo aparelhado preso de movimentos, uma mãe que tenta salvar o seu filho, os acordes de “Tristão e Isolda” sobem de tom, um planeta desconhecido surge em rota de colisão com a Terra. O início é o fim do mundo, tal como Lars von Trier o pensou e encenou no filme “Melancholia”, que há-de estrear por cá brevemente.
O realizador dinamarquês, graças aos seus dois últimos filmes e a algumas declarações anedóticas pelo meio, também entrou em rota de colisão com a crítica. Deprimente, grotesco, enfadonho ou kitsch são alguns dos adjectivos usados para descrever “Melancholia” e o anterior “Antichrist”. Há, porém, uma outra maneira de olhar para estes filmes. Pondo de lado o filtro dos dias de hoje, carregados de lógica e cinismo, e usando uma mentalidade digamos que mais século xix. Lars von Trier transformou-se num romântico. Um romântico radical que cultiva estados emocionais extremos, como a depressão que se segue à morte de um filho ou a angústia que antecipa a destruição do planeta Terra, apenas para exacerbar a beleza que há num sentimento como a melancolia.
A melancolia é talvez a mais sublime forma de escapismo, mas com o passar do tempo foi caindo em desuso e hoje não passa de uma velharia. Se mais não fosse, com este seu filme Lars von Trier teve o engenho e a arte de a reabilitar.