O tema já cansa. Mas este artigo do meu estimado Ferreira Fernandes quase me escapou. O Ferreira Fernandes sabe o que penso das crónicas dele. Na crónica (sublinho: crónica) escrita em português-português existem três nomes que estão lá em cima: Miguel Esteves Cardoso, Vasco Pulido Valente e Ferreira Fernandes. Com um particularidade: o MEC é o mais português dos ingleses; VPV é o mais inglês dos portugueses e o Ferreira Fernandes é o único que consegue ser brasileiro, angolano e português tudo em dose certa só possível a quem tem o percurso que ele tem. Infelizmente para mim que sou seu leitor e admirador, há um Ferreira Fernandes que escreve crónicas como esta e esta (magníficas no estilo, na contenção e naquela generosidade com que ele se mistura com o mundo) e outro Ferreira Fernandes que usa o seu enorme talento para baralhar um debate importante e para dar cobertura a causas que o não merecem.
Nem o João Miguel Tavares, nem ninguém, que eu tivesse notado, sugeriu alguma vez que Portugal se parece com a Argélia. De facto, não é preciso ser muito corajoso para botar "opinião pública" por cá. Coragem é sobretudo coragem física e moral (a coragem intelectual também existe mas em muitos casos chamar-lhe coragem é uma figura de estilo). De qualquer maneira, Ferreira Fernandes tem obrigação de saber que o "medo" (não de perder a vida mas de perder o emprego, de sofrer pertubações na sua vida profissional, de ser admoestado, de apanhar com uma inspecção conveniente, de ser ostracizado de muitas maneiras), as "pressões" directas ou indirectas, os "silêncios forçados" não acontecem apenas nas ditaduras. As democracias recentes, pequenas e vulneráveis a inúmeras formas de captura do Estado como a nossa, também são feitas disso. Bem sei que Ferreira Fernandes é adepto dos métodos de força do Senhor Engenheiro. Mas não tem razão para nos tratar como gente quixotesca com o dedo espetado contra o que não existe. Vemos, ouvimos e lemos. Portugal é minúsculo, são quatro ou cinco que mandam, mais vinte que fazem o serviço desses quatro ou cinco e nós todos, o resto, não passamos de peões em esforço, uns mais atentos do que outros. O JMT, de quem sou amigo, tem sido dos mais atentos. Palmas para ele.