Insistência


A fernanda câncio responde a este post elogiando a minha vontade de discutir argumentos. Simplesmente não devolve igual boa vontade. Creio que a fernanda câncio concordará que dizer que a minha argumentação acerta na água é curto.

E por isso eu insisto: o que é que está errado neste texto ? Porque é que, apesar do que escrevi, devemos considerar que José António Cerejo cometeu um falha deontológica ?

P.S.: Numa coisa fernanda câncio tem razão: linkei o post errado. Queria referir-me a este. Está agora corrigido.

Impaciências deontológicas

Neste Agosto as temperaturas subiram e reacendeu-se e a indignação de fernanda câncio com a falta de ética dos jornalistas.
Desta vez é José António Cerejo o acusado de violar o Código Deontológico por (segundo fernanda câncio) escrever sobre matéria em que tem um interesse.
Que suposto interesse será esse que deveria motivar a abstenção de Cerejo ? O seu estatuto de assistente no processo judicial objecto das notícias sobre o processo Freeport.

Ironicamente, o raciocínio de fernanda câncio revela uma óbvia incompreensão da questão deontológica que levanta. A preocupação do código deontológico é a de evitar que os jornalistas actuem no plano profissional sempre que a sua imparcialidade e isenção possa ser afectada por um interesse pessoal.
É, porém, evidente (como a própria fernanda câncio reconhece quando critica Cerejo por desvirtuar o estatuto de assistente) que o interesse do jornalista no processo Freeport é meramente profissional. O que interessa a Cerejo é aceder a informação (já não protegida por segredo de justiça, sublinhe-se) para a divulgar através do jornal onde trabalha. É-lhe irrelevante o desfecho do processo.

Nesse sentido Cerejo não tem um interesse pessoal e directo no desfecho do processo que seja deontologicamente impeditivo. O que está vedado aos jornalistas é escrever sobre matérias em que possam esperar um ganho ou uma perda, em que possam sofrer ou exultar com as voltas e contravoltas da matéria noticiosa, porque são essas situações que os podem tornar parciais, que podem comprometer o seu interesse profissional em relatar factos (tão próximos quanto possível) da verdade. Não é manifestamente o caso de Cerejo.
Por isso, a questão pertinente a debater não é a que motiva indignações deontológicas a fernanda câncio, mas sim outra que não justifica tanta paixão: faz sentido que o Código de Processo Penal permita que pessoas sem um interesse pessoal e directo no (resultado do) processo se constituam assistentes ? A letra da actual versão do Código de Processo Penal não coloca restrições, mas deverá continuar a ser assim ?

Companhia das Índias


A música pop feita em Portugal melhorou muito desde os inenarráveis anos 80. Mas quando é para partir a loiça acabamos sempre por voltar aos Pop Dell'Arte.


[Ritual Transdisco, Contra Mundum, 2010]

Para a história nacional da obscenidade

José António Cerejo está pacientemente e sobriamente a descascar o processo Freeport, que deixou de estar em segredo de justiça desde o passado dia 27. São demasiados indícios uns ae trás dos outros que apontavam para a utilidade em ouvir e investigar aquele que foi o responsável político máximo pela autorização do Freeport, para que alguns detalhes duvidosos do processo de licenciamento pudessem ser esclarecidos. Isso não foi possível e, sabemos hoje, Pinto Monteiro mentiu quando disse que os procuradores tiveram todas as condições para fazer a diligência e Cândida Almeida mentiu quando disse que a diligência em causa seria inútil pois não acrescentaria nada. E há para aí muita coluna de opinião a precisar de ser reescrita pelos seus autores.

Para a história nacional da obscenidade

Os Procuradores quiseram ouvir Sócrates. E tinha sido relevante ouvir Sócrates. Mas não lhes deixaram.