O último filme de Michel Haneke (O Laço Branco/Das weisse Band) passa-se numa remota aldeia do norte da Alemanha e conta a história de um grupo de crianças suspeitas (capazes?) de uma série de crimes e atrocidades. Porém, na sua cena mais cruel, o protagonista é outro: o médico que, no final de uma visista mal sucedida, se despede da sua amante dizendo-lhe o quanto ela o repugna e acusando-a, de caminho, de ser asquerosa, lassa, desmazelada e ter mau hálito. É Haneke a citar Bergman a citar Strindberg. Até que, a dada altura durante a conversa, quando questionado pela amante sobre as razões para continuar a procurar aquele ser tão desprezível que se ajoelha perante ele, o médico dá esta resposta brutal: "Quando estamos muito doentes tornamo-nos sentimentais". As crianças serão já um lobo do homem, mas há certos requintes que só chegam com a maturidade.