A guerra é um lugar estranho














Duas cenas bastariam para fazer de The Hurt Locker um grande filme (o melhor, juntamente com In The Valley of Elah, sobre a guerra do Iraque): aquela em que Jeremy Renner, a personagem principal, caminha dentro de um enorme fato à prova de bomba acompanhado apenas pelo sopro tenso da sua respiração, e que remete, intencionalmente ou não, para 2001 e para a solidão do astronauta perante a infinitude do espaço (Jupiter and beyond the infinite); e uma outra em que três soldados americanos, após eliminarem os inimigos um a um durante uma emboscada no deserto, se mantêm estoicamente inertes ao longo de horas nas suas posições de defesa para assegurar que nenhuma nova surpresa aconteça.

O protocolo militar ensina que a prioridade quando se é apanhado numa emboscada é sobreviver ("live to fight another day"). Na generalidade dos casos, esse objectivo consegue-se abandonando de imediato a zona de fogo. Mas há situações em que, por tal ser de todo impossível, se torna necessário encontrar o lugar menos vulnerável dentro da zona fatal e, por maior que seja o desconforto, aí aguentar em vigília até que o tempo traga novas indicações. É aqui que reside o ponto forte de Hurt Locker: na eficácia com que faz passar certas ideias paradoxais associadas à guerra, como esta, de um lugar insuportavelmente desconfortável que é ao mesmo tempo o único lugar de resguardo possível.

[Spoiler]

No fim, Renner regressa a casa e apercebe-se que a única coisa que lhe interessa na vida, não é nem a segurança, nem a mulher, nem sequer ver o filho crescer, mas continuar a desarmantelar bombas na guerra. Na do Iraque ou em qualquer outra. E isso, contado como o filme conta, sem juízos de valor à mistura, tem uma grande pinta.