Se o mundo fosse um lugar justo e o homem um bom selvagem, alguém já teria tido o cuidado de alertar este jovem para a trágica figura que anda a fazer. Mas este é um mundo cruel, em que até os mais chegados são incapazes de resistir ao perverso prazer de observar passivamente um dos seus a fazer chichi pelas pernas abaixo. À indigência sintáctica e gramatical da criatura, junta-se agora a tentativa de ter graça. Porém, mais do que falhado, o ensaio mete dó. Provoca aquele remoinho na barriga de vergonha do alheio, um alheio que sendo no fundo bem-intencionado (tragédia) acaba vítima da sua aterradora inabilidade (comédia). O Afonso Azevedo Neves faz lembrar o Rupert Pupkin (para os esquecidos: King of Comedy, Martin Scorsese, 1982). O mesmo excesso de voluntarismo, a mesma falta de jeito, provavelmente, o mesmo final feliz. Temo que, tal como no filme, nós é que sejamos os loucos.