Um eu apto para ser amado














Qualquer um de nós, suponho, afirmaria que o amor-próprio é a primeira condição da sobrevivência. E como a sobrevivência é o mais conservador dos deveres que temos no mundo, está então encontrada a primeira obrigação que também temos para connosco: o amor-próprio. O amor-próprio e a sobrevivência andam na mesma estrada.

Agora sentem-se e leiam isto:

"Survival (the animal, the physical, bodily survival) can do without self-love. As a matter of fact, it may do better wihout it than with it. The survival instinct and self-love may be parallel roads, but they may also run in opposite directions. Self-love may rebel against the continuation of life if we find that life hateful rather than lovable. Self-love can prod us to reject survival if our life is not up to love's standards and therefore not worth living.
What we love when we "love ourselves" is a self fit to be loved. What we love is the state, or the hope, of being loved - of being an object worthy of love, being recognized as such, and being given proof of that recognition.
In short: in order to have self-love, we need to be loved or to have hope of being loved. Refusal of love - a snub, a rejection, denial of status of a love-worthy object - breeds self-hatred. Self-love is built of the love offered to us by others. Others must love us first, so that we can begin to love ourselves."

Grande cabeça tem este Baumann. O que é fascinante aqui não é apenas essa separação radical entre o amor-próprio e a sobrevivência. O amor-próprio que me tenho pode implicar um eu que tragicamente não consigo alcançar, pelo que ficarei dispensado de querer sobreviver. A outra ideia é que eu devo tentar ser, ao longo da vida, um objecto digno de ser amado - an object worthy of love - a fim de manter sempre viva a esperança de ser amado, isto é, de ser reconhecido como amável e de ser amado por esse reconhecimento. Por outras palavras, podemos dizer que o amor-próprio não pressupõe tanto uma ética de sobrevivência como uma ética de aperfeiçoamento. Serei tanto ou mais amado, na medida em que seja digno de ser amado. Se eu desistir daquilo que pode fazer de mim um ser amável, susceptível de ser amado, perderei a esperança de que os outros me amem e, consequentemente, perderei também qualquer possibilidade de amor-próprio.