O desemprego, sobretudo o desemprego de quadros qualificados, é poucas vezes tratado no cinema. Percebe-se porquê. O mercado cinematográfico, em grande parte alimentado por quadros qualificados e suas famílias, está pouco interessado em lidar, ainda que de forma lúdica, com este problema. Para além disso, o desemprego, seja em que estrato social for, é um tema sem qualquer glamour. Longe, muito longe, das causas e subcausas fracturantes, das questões de discriminação e até mesmo da doença, onde a vitima pode sempre ser retratada como um mártir ou como um herói. Os filmes pedem heróis e um desempregado, para mais um desempregado com qualificações, a quem foi dada e desbaratou a enxada e a terra para lavrar, dificilmente deixará de ser visto como um falhado.
Mas o desemprego, cada vez mais um tema da vida real do Ocidente, tem potencial para grandes filmes. L’emploi du temp, de Laurent Cantet (um realizador que se tem concentrado em temas ligados ao trabalho) é um deles. A história de um homem que perde o emprego e, incapaz de assumi-lo perante a família, finge continuar a trabalhar, encenando uma vida que não existe, de fuga para a frente e autodestruição. Como em tantos grandes filmes, a temática base (o desemprego) é apenas o ponto de partida para chegar às grandes questões existenciais: o que é que andamos aqui a fazer; qual o sentido das coisas, a sua utilidade; porque nos levantamos; porque nos preocupamos. A resposta é pouco animadora mas ainda assim profilática. O emprego do tempo é, em rega, um exercício de fastio. Intolerável se não for enquadrado por algum sentido de sacrifício, de disciplina e de resignação. O sentido das coisas, ainda que hipoteticamente transcendente, é o sentido que nelas pomos.