Não há corrupção de esquerda ou de direita. Não existem os nossos e os vossos corruptos. Pode haver os nossos sacanas porque a política está muito longe de ser um jogo de virtudes. Mas, fora isso, os corruptos são corruptos. Não têm ideologia, não diferem nos métodos que usam nem nos crimes que praticam.
O Eduardo Pitta escreve neste post que aguarda pelas "reacções indignadas" sobre o processo-crime contra a antiga gestão de Carlos Horta e Costa nos CTT, nomeada pelo governo de Durão Barroso. Pensa o Eduardo Pitta que andamos a ser selectivos quando questionamos os casos que envolvem figuras do PS, sem nada dizermos sobre os que afectam personalidades da "direita" ainda por cima com apelidos sonantes.
Está enganado. Se há indícios da prática de crimes económicos na venda de dois edifícios do Estado, que foram investigados e geraram uma acusação pública, os factos em causa merecem ser condenados sem reservas. Aqueles gestores devem ser punidos pela sua incompetência e ilegalidades se o Ministério Público provar a sua acusação em tribunal. O Estado também foi omisso nos seus poderes de tutela, demonstrando-se mais uma vez que muita coisa precisa de ser feita para submeter as empresas públicas a normas de controlo e transparência. A justiça deve funcionar contra todos. Como disse, não existem corruptos de direita ou de esquerda. Talvez só do centro.
Quero por isso tranquilizar o Eduardo Pitta. Em matéria de corrupção não fazemos distinções ideológicas. Nem nas acusações de crimes que não são tecnicamente de corrupção mas que merecem censura (eu próprio escrevi algo nesse sentido, durante a campanha eleitoral, sobre António Preto). Não temos duas medidas.
Mas, por isso mesmo, também esperamos do Eduardo alguma reciprocidade. Queremos que ele se "indigne" sempre que houver nomes do PS implicados em escândalos (de corrupção ou ilegalidades várias). Queremo-lo com espírito crítico e atento. Tem agora este episódio fresquinho de Armando Vara para seguir de perto. E uma vez que o Eduardo Pitta lembra aos gentios que nos CTT a administração de Horta e Costa vendeu dois edifícios sem concurso público, a minha memória não se lembra de o ter ouvido quando o Porto de Lisboa renegociou a concessão do terminal de contentores de Alcântara à Liscont (da Mota-Engil) sem concurso público. Tinha aí uma oportunidade, Eduardo, para verberar uma ilegalidade consentida por este governo. Se ficou calado (como creio que ficou, mas assumirei o meu lapso se mo demonstrar), foi uma pena. Reciprocidade é tudo o que pedimos.