Não, Isabel, a minha ironia não era dirigida pessoalmente contra ti e muito menos para diminuir a tua opinião, que respeito em absoluto, mas contra aquele argumento ad terrorem e falso que tem levado algumas pessoas, de maneira imprópria e às vezes contradizendo aquilo que já defenderam no passado, a equiparar a situação do primeiro-ministro à de um cidadão comum. Até agora nenhum jornal dos que já publicaram notícias sobre o caso "Face Oculta" violou a privacidade de José Sócrates. O segredo de justiça sim, mas nenhum dos factos já tornados públicos diz respeito à vida privada do primeiro-ministro, mesmo que tivesse sido retirado de conversas com um amigo. Se quiseres posso dar-te outros exemplos de casos análogos e nem é preciso mencionar os Pentagon Papers que, contra o segredo de Estado, a segurança nacional e as conversas particulares de Nixon, apareceram nos jornais e foram depois confirmados por uma decisão histórica do Supremo Tribunal Federal Americano. Há dois anos o antigo primeiro-ministro da Hungria, Ferenc Gyurcsáni, também foi gravado numa reunião privada com membros do seu partido a dizer que "tinha andado a mentir aos húngaros nos últimos dois anos". Foi tudo divulgado e ele precisou de responder por isso.
Continuo a dizer - felizmente há muita gente que defende exactamente o mesmo - que tudo o que o primeiro-ministro tiver comentado com Armando Vara que seja revelador de uma conduta politicamente irresponsável e manipuladora, em particular no que se refere às suas relações com a comunicação social, deve ser esclarecido para podermos formular o nosso próprio juízo sobre o tema. Continuo também a dizer - e há muita gente a dizer o mesmo - que as escutas a Armando Vara em que interveio o primeiro-ministro são válidas, mas não creio que devamos enxamear este problema com o típico formalismo e indefinição em que alguns juristas são especialistas. O problema é político e é nesse território que deve ser analisado.
Continuo a dizer - felizmente há muita gente que defende exactamente o mesmo - que tudo o que o primeiro-ministro tiver comentado com Armando Vara que seja revelador de uma conduta politicamente irresponsável e manipuladora, em particular no que se refere às suas relações com a comunicação social, deve ser esclarecido para podermos formular o nosso próprio juízo sobre o tema. Continuo também a dizer - e há muita gente a dizer o mesmo - que as escutas a Armando Vara em que interveio o primeiro-ministro são válidas, mas não creio que devamos enxamear este problema com o típico formalismo e indefinição em que alguns juristas são especialistas. O problema é político e é nesse território que deve ser analisado.
Por fim, é óbvio que o meu reparo também não te visava a ti mas ao blogue onde decidiste escrever que foi muito crítico, por exemplo, do Presidente da República mas que não é capaz do mesmo espírito contra o governo e o primeiro-ministro. De resto, já tive várias oportunidades para testemunhar a tua liberdade e coragem e a última delas aconteceu há pouco tempo. Quanto ao resto, conversamos face-to-face. Até breve.