Tentar distinguir

Cabeça fria, como tem pedido o Filipe. Não é fácil, mas tem de ser feito. Este primeiro-ministro perigoso, mais a sua camarilha mais próxima, em quem ninguém mais confia, são um capítulo que se está a fechar. Mas este governo tem muita gente competente e digna. Tem muita gente que conheço pessoalmente, nos ministérios, na Adminstração, pessoas de uma enorme qualidade. Foi um bom governo pelo menos durante os primeiros dois anos. Perdeu-se, sim, pelas razões conhecidas. O poder é dramático e, quando pensamos que podemos fazer tudo com ele, rebenta-nos fatalmente nas mãos. Não transformemos os dias de hoje numa caça às bruxas, não idolatremos os nossos (quem são os "nossos"?), não demonizemos os políticos ou os magistrados, nem endeusemos os jornalistas, que também escorregam muitas vezes. Nada de esticar a corda com um ambiente de "guerra civil" que torne o ar ainda mais irrespirável. Uma "providência cautelar" não é um acto de censura. As pressões, que fazem parte da relação conflitual que existe entre poderes, não atentam forçosamente contra a liberdade de imprensa. Magnanimidade, mesmo com quem nos tem ofendido. Não é tempo de confundir mas de tentar ver com clareza e distanciamento, para percebermos como é que podemos evitar muitos dos atropelos que têm ocorrido nestes tempos mais recentes. Tentar distinguir é um dever permanente.

(Este post responde também ao Eduardo, que só li agora, depois de o ter escrito, e de quem também sou leitor. Não, Eduardo, não existe nenhuma intolerância da minha parte. Nunca houve. Intransigência, sim, mas é outra coisa. E fecho este assunto).