O risco de transformar a luta política numa guerra sem quartel entre "nós" e os "outros" é o de perder-se o sentido dessa luta. Pior: não perdendo o sentido da luta, perder o controlo sobre a extensão do seu domínio.
Ontem, por exemplo, a propósito da providência cautelar contra o jornal Sol, foram feitas afirmações ignorantes e afirmações irresponsáveis. M. Moura Guedes - cujas palavras, dada a sua circunstância, têm um relativo interesse mediático - disse que a providência era a "oficialização da censura". O representante de um partido político considerou-a um "precedente preocupante". E um dirigente de uma associação de juizes, por seu lado, disse tratar-se de uma forma de pressão inaceitável.
Não nego que o cheiro a napalm logo pela manhã me agrade. No entanto, se a luta política é feita em nome de valores como a liberdade de expressão e a decência, este é um péssimo e perigoso caminho. Na relação entre direitos, eu diria que o de falar livremente pressupõe o de interpor providências cautelares, incluindo providências cautelares para impedir a publicação de notícias (só há liberdade com imputabilidade).
Por estes dias, importa não dispersar e manter cabeça fria. Evitar dar cobertura a dislates de personagens circunstanciais, mitigar os danos colaterais de certos voluntarismos, impedir a subversão da luta e a extensão do seu domínio. Para que tudo isto, no futuro, não nos rebente na cara.
Por estes dias, importa não dispersar e manter cabeça fria. Evitar dar cobertura a dislates de personagens circunstanciais, mitigar os danos colaterais de certos voluntarismos, impedir a subversão da luta e a extensão do seu domínio. Para que tudo isto, no futuro, não nos rebente na cara.